VOICES WITHOUT FLOWER AND SUN

Sentado em uma das poltronas do meu ego,

Perscruto nuvens de breu do passado:

Elas são malgas densas

E corpulentos guarda-roupas de fel

Que se tornam febres de lancinação

Do remorso calcinante, cruel!

Então, assim trôpega e amargamente,

Ressingro a alameda

De meus execráveis erros:

Forço-me a ficar ante a torpe face

Dos eus nefandos cuja morada

Deita na crosta da minha pessoa hipócrita, nefasta!

Ah, e quando os contemplo,

Compreendo a real latitude do medo

Que impõe um semblante composto

Pelo nevoeiro de geleiras, êxtase

E sofreguidão por causar infinitos tormentos.

Ah, como quero o perdão

E o alento que minhas vítimas não tiveram.

Como me confortaria poder construir

Uma máquina do tempo

Para regressar á época dos meus tenros delitos:

Sustar-me a materialização dos atos dantescos

Quando, ao penetrar no universo da mente,

Afluísse ao reino do córtex,

Onde instalaria um vírus

Qual pusesse cobro

A germinação dos pensamentos

Malevolamente insanos.

Infelizmente, não posso retroagir no tempo.

Não posso eludir que o remorso irrompa

E vire metástase. Não posso. Por isso

Me transformo em infrenes cachoeiras de elegia e lamento!

Não tenho direito á flora das manhãs.

Não tenho direito á primavera

Cujo aroma pulula da concórdia.

Não tenho direito ao refrigério

Do mental divã que livremente flutua sobre o céu sem agrimensura.

Não tenho direito a verdade que repousa

Dentro do ventre da ametista

Onde se assenta o paraíso do Nirvana.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA