Saudades sem Rosto

Estranha melancolia,
avança-lhe sobre
o coração intensa saudade,

como se estivesse
a despedir-se de pedaços seus.

E não tendo como enfrentar-se.
A decisão de não desejar a ausência,
de fazer-se duro e inflexível
ante os ventos do destino.
Um ermitão de si,
longe de todos, longe de tudo.
Uma contraposição de nada ao todo.
Uma dualidade que enfrenta-se sem tréguas.
Dolorosas oposições, insustentáveis conflitos.
E então o lenitivo de nova ilusão.
Um necessário fingimento,
como unguento para a sobrevivência.
E deixar o mundo,
para buscar a liberdade
entre quatro paredes.
Autoflagelar-se por isto,
despertando a fúria ante a covardia.
Desrespeitando os limites,
deixando exposta a ferida do coração.
Zombando do passar do tempo,
Ironizando o ponto final
para logo depois
todo o autocontrole
desfazer-se em intrigante impulsividade.
Enche-se de dúvidas,
mergulhando em  intrépidas interrogações,
sentindo o doce sabor dos sofismas,
e depois todo desprezo por eles.
Observa a lógica das ideologias,
e depois ri-se da sua finitude,
impregnada, em meio à vida,
de sua atuação em sua história.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 30/06/2009
Reeditado em 30/06/2009
Código do texto: T1675435
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