Poema sem Nome

Foi com horror que percebi que amava:

No seio murcho a viva brasa ardente.

Corri ao espelho, pálido e tremente,

A ver se alguma coisa em mim mudava...

No entanto o mesmo olhar de antigamente

Nas órbitas profundas ainda estava;

E o reflexo que atônito me olhava

Às sombras retornou timidamente.

Mas quem no mundo, ó deus, aceitaria

O afago desta pobre mão ossuda?

E a resposta somente a sala muda

Em torno a sussurrou por zombaria.

Eu soube, então, que só a sepultura,

No instante derradeiro que viria,

Seria doravante a companhia

De toda a minha vida só e escura.

Henrique de Castro Silva Junior
Enviado por Henrique de Castro Silva Junior em 01/06/2006
Código do texto: T167080
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