Poema sem Nome
Foi com horror que percebi que amava:
No seio murcho a viva brasa ardente.
Corri ao espelho, pálido e tremente,
A ver se alguma coisa em mim mudava...
No entanto o mesmo olhar de antigamente
Nas órbitas profundas ainda estava;
E o reflexo que atônito me olhava
Às sombras retornou timidamente.
Mas quem no mundo, ó deus, aceitaria
O afago desta pobre mão ossuda?
E a resposta somente a sala muda
Em torno a sussurrou por zombaria.
Eu soube, então, que só a sepultura,
No instante derradeiro que viria,
Seria doravante a companhia
De toda a minha vida só e escura.