Migalhas de Si

 
Nem por tanto, nem por tão pouco.
Foge a palavra no cansaço cerebral.
A tentativa de se fazer vivo,
de encontrar um sentido
que sabe perdido.
E nem a obstinada busca,
nem o doloroso desprezo.
Já não é tempo para sonhar,
a esperança quer morrer.
E morta, ainda haverá
que ter o sobrevivente.
Aquele que está
exausto de viver e morrer.
A saga de um destino.
Um heróico canalha.
ou um canalha heróico?
Antes de tudo, homem.
Não há lugar para
o delírio do anjo de Deus.
Não há anseio
pela sede de Justiça.
Jaz um coração envelhecido.
O corpo que traiu a alma.
A alma que traiu a si..
A alma que finge existir.
A alma que almejou ser e não foi.
A depressão delirante
dos poetas sem texto.
As madrugadas inexistentes
das luas perdidas.
A flor frágil, e o duro coturno,
passos na noite.Trevas de si.
Luz que se apaga num sorriso.
E por que dar tanto valor
a futuras inutilidades?
Seria a raposa da lenda
ante as uvas inalcançáveis.
Todo ser tem algo de patético,
mas antes o Quixote louco,
a digladiar com
os seus moinhos de vento,
sonhando-se cavalheiro
inspirado por uma dama e deusa.
Fáceis ilusões, sem preço,
sem meias medidas.
Sem a graça, sem a perfídia
do fausto da beleza,
Sem o encanto
que um dia fez criar
onde nada havia.
Pois que, afinal, nada tem,
nada é, nada existe
senão a tola certeza de si mesmo,
da estupidez bruta
de um ego contrariado,
mas que paciente
em sua impotência ante o destino,
zomba de si, no silêncio
de seu descompasso cardíaco.
Vertendo o veneno da ironia,
embriagando-se em sarcasmos.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 27/06/2009
Reeditado em 28/06/2009
Código do texto: T1670203
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