No Fundo do Rio
Uma sociedade escravizada pelos seus próprios desejos sempre insatisfeitos,
Sou uma criança tão terna enjaulada num corpo vil de um reles adulto,
E onde está neste instante a alegria febril de meus melhores amigos que me deram as costas?
Mas persisto em procurar por algo que não sei exatamente o que é,
Mas eu sinto que devo continuar procurando por esse algo incógnito,
Eu sinto que devo continuar ainda com os meus olhos abertos.
Não há mais o que se admirar através das janelas,
Os impulsos incontroláveis e doentios da paixão assassinado
o ser amado,
E depois a si mesmo.
Eu depositei meus mais íntimos segredos em teu coração vazio e fingido,
E minhas ilusões desiludidas sobre tudo zombam de mim,
E quando viro o rosto para pensar e olhar uma outra coisa
É sempre a mesma estupidez e perversidades banalizadas.
É tão difícil encontrar um lugar que nos inspire paz e alegria,
Não há mais deuses a se recorrer,
Não há mais motivos reais para se abrigar,
O vento acaricia as folhas das árvores suavemente,
E eu sinto que a poesia ainda não foi completamente destruída.
Esperar por esse algo me causa tanto cansaço,
Estou exausto de sentir piedade por mim mesmo,
Quando no mundo já não existe mais coisas e sentimentos assim...
A vida me conduz pelo mundo com a sua mão pesada,
E me translada para o leito de todos os rios do mundo;
E eu grito, vomito, cuspo, e atiro com bastante força
toda a minha dor no rio,
E ela afunda, mas não se desmancha,
Afundada no abismo do rio,
Porém eu sei que ela permanece lá,
Talvez esperando a minha hora...
Será que ainda resta alguém que possua
Sentimentos sinceros e bonitos nesse mundo insano?
Preciso tanto ver algo que faça meu coração se encher de ternura e esperança,
Preciso tanto de...
Tenho vergonha da pessoa em quem me transformei,
Tento me reconhecer e entender as coisas,
Contudo minha consciência fica tão confusa e perdida ao olhar
para a vida.
Você não imagina que, às vezes, o que mais se necessita
É de um simples abraço,
Um sorriso meigo,
Uma palavra de ânimo,
Uma companhia verdadeira.
Quando você estiver feliz,
Com seus grandes amigos te fazendo rir,
Cheio de alegria, sonhos e saúde,
Lembre-se que cedo ou tarde perderás tudo isso,
E que a morte é o fim de tudo.
A poética caminhada de meu pai abandonando sua própria família,
As líricas surras que a vida, minha linda mãe, me deu...
Mas eu sei que a dor fortalece ainda mais o meu espírito,
E eu berro a Deus: _ É só isso que consegues fazer?
Te resumes a esse mero livro pueril e mentiroso?
A Vida é a mãe mais covarde, derrotada, vadia e apática de todo o Universo,
Pois ela perde todos os seus lindos filhos para a morte.
Aceitar a Existência da forma que é
Foi, e sempre será, a única opção que nos deram.
No fundo abismal do rio,
Permanece minha dor esperando o momento de me unir
Eternamente em seus braços,
Ambos esquecidos,
No fundo inescapável do rio.
Acaraú, 25 de Junho de 2009