Trabalho como ofício
Trabalho como ofício
Há anos o trabalho tem sido prioridade na minha vida
Dias e noites, a qualquer hora, em qualquer lugar.
Nada importa, tudo é secundário se tenho de labutar.
Nem a família, tão querida, se pode comparar.
Mas tenho percebido o tempo passando ao lado
Os filhos crescendo, os amigos morrendo.
Tudo e todos num galope alucinante
Fugindo do presente e reservando um lugar no passado.
De repente, me deu uma insegurança tamanha.
Diante da mais remota possibilidade de ter vivido em vão
Algo que me tomou por inteiro e exigiu-me sacrifício
Numa campanha árdua de nobre ofício
Mas que pode me dar como troca a mais angustiante solidão
Anos e anos da mais pura dedicação
Certamente, aqueles que puderam presenciá-la.
Muito em breve já não mais aqui estarão
De que vale então as lembranças sem poder compartilhá-las?
Sinto, ainda, um sopro de vida
Ou melhor, uma gotícula transparente
Que ainda me permite enxergar o lado reluzente
De uma existência de subidas e descidas
Não dá mais para assisti-lo passar de camarote
Muito menos aplaudir a sua performance.
O tempo não espera nem dá segunda chance
Trabalho...ofício...nada é importante o bastante
Para se deixar conduzir pela própria sorte.