Ao Ópio
És tu o vil dragão que me aprisiona
No teu sopro narcótico e indolente
E mesmo cônscio dessa dor pungente,
Cedo ou tarde, nesta vida me abandona.
Crepitas junto à horrenda beladona
Tomando-me a alma lentamente,
Mas deixa-me, ao menos, na dormente
E doce ilusão que em ti ressona.
Mesmo assim, ó dragão, que te esvaeces
Num pranto que devora-me a garganta,
És tu a morte que me aterra e encanta
levando-me ao local de minhas preces.