Era mentira...
Os anos se passaram
E quando me dei conta
Eu já não era a mesma!
E você também não era o mesmo!
Na minha memória eu guardava aquela velha imagem
Daquela tarde de agosto.
Seus cabelos negros molhados pela chuva
Teu pela alva feito a neve
Os olhos de ébano.
Éramos tão jovens...
Eu era tão cheia de sonhos
E acreditava ser capaz de conquistar o mundo!
Eu te amei em meio ao segundos que nossos olhos se cruzaram.
E pra você eu entreguei todos os sonhos de uma jovem de 16 anos.
Imaginei o vestido, lindo púrpura, medieval como das rainhas
Eu acreditava ser uma.
Eu vi a nossa herança, filhos que teriam tua pele
Teus cabelos e esses olhos repletos de encantamento.
Era o meu conto de fada.
E todo o meu imenso e magnífico amor
Estava entregue a você!
Mas todo esse amor foi em vão.
Vi você pouco a pouco escorrer por entre meus dedos
Feito areia.
E quanto mais eu tentava te reter mais e mais um vento forte
te soprava pra longe de mim!
E vi tudo ao meu redor desmoronar.
E quando dei por mim você não estava mais ali.
E eu quis morrer e morri a cada dia
De modo diferente.
Mas você nunca entendeu isso.
E mais anos se passaram
Eu ouvia sempre mesma velha frase: "Vai passar, vai passar..."
Fui envelhecendo vendo os amigos casando
Tendo filhos...
Eu subi num palco e coloquei meu melhor figurino
Já não era mais eu, era outra que tomara meu lugar
Para suportar o fato de ter perdido você!
Noites mal dormidas, entorpecida pelo vinho.
Dias arrastados fingindo a todo tempo.
É passado, sei me virar sozinha.
Era mentira!
Era mentira que passaria e que o tempo
Esse ser medonho e carrasco te levaria.
Você nunca se foi, eu só aprendi a sobreviver com a dor.
Eu só aprendi a dizer que não me importava.
Com o fato de você ter feito ninho em outra morada
Da sua herança não ter sido gerada de meu ventre seco!
Não eu não sou a mesma, essa a quem vejo no espelho
Quem será?
Mas não é aquela menina que te encontrou em meio ao temporal.
Então porque eu continuo a te amar?
Por que sinto ciúmes, por que me sinto usurpada?
Eu não tenho respostas, os sábios que previram o futuro
Não conseguiram responder.
Por um tempo acreditei estar curada.
Hoje te vi.
E meu Deus, eu me senti como aquela adolescente
Tremula por ver o ser amado.
E tive que ser tão dura comigo mesmo.
Te abraçar, ver que os negros cabelos agora estão prateados.
A pele alva e o mesmo olhar que há dezesseis anos me enfeitiçou.
Ver brilhante o elo no seu dedo esquerdo, aliança que não me liga a você.
Respirar mais fundo e se despedir, profetizando felicidades!
Fugi e comigo as lágrimas e a dor tamanha.
Eu quis morrer!
Do que me adianta títulos?
O que farei com eles
Do que me serve bens?
Poderei com eles comprar seu amor?
Mas sei que não vou morrer.
Esse espinho vai permanecer no meu coração.
Quantos anos mais?
Eu não sei....
Chorei tudo que podia
Agora as lágrimas são as que vertem por dentro.
Estou morrendo aos poucos....