Aos Vivos
Feliz é aquele que se foi da vida
Partindo à sombra de nefasto encanto,
Levado pela côrte penitente
Em gritos funerais de dor e pranto.
Feliz porque, então, no seio murcho
- Este humano e pútrido instrumento -
Somente o verme, impaciente e astuto
Virá ferir-lhe o coração cinzento.
Também feliz de quem na tenra infância
Sentiu da Foice as sepulcrais andanças
Sem dar ao mundo – este sanguinolento -
A chance de roubar-lhe as esperanças.
Mas no final de toda esta matança
Que a todo o mundo vivo acometeu
Eu tremo e balbucio febrilmente:
Feliz somente foi quem não nasceu...