ANOITECER

Anoitecer?

Ahh, eu já anoiteci há tantas décadas

quantos foram os outonos que recebi sem querer...

E quando olho teus espelhos entupidos de arrogância,

sinto ímpetos de fazer neles refletir a valsa

do crepúsculo demente que ora vivo.

Claro que eu não quero te fazer cativo... Podes ir.

Não! Não se preocupe que eu não vou roubar

tuas primaveras, nem alienar tuas quimeras

tão bem dançadas ao ritmo da salsa.

Porém, não repara se eu ficar aqui de longe,

tamborilando meus dedos gelados, não de monge,

mas, de devassa... Na cadência de um velho tango.

Pois, eu já não posso ver meu próprio reflexo

porque os meus espelhos se quebraram

no congestionamento de tuas máscaras

e em cada amplexo que elas demitiram.

Anoitecer?

Sim, eu anoiteci com cada gota desperdiçada

(que fez meu espaço terreno escurecer...)

nessa chuva derramada que o teu espelho jamais vai refletir

por estar ocupado demais com a tua gargalhada...

Anoitecer?

Sim, é preciso...

Pra que possa haver um novo amanhecer

sem dor, sem hipocrisia e sem mágoas...

Tânia Regina Voigt
Enviado por Tânia Regina Voigt em 12/06/2009
Reeditado em 17/01/2015
Código do texto: T1646191
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