Rejeitando a Si Mesmo

Agitação, passa a abrir
as gavetas do armário 
à procura de algo.
É mera materialização
da busca afetiva,
pois nada perdeu.
Inquietação, dirige-se à porta.
Quer sair, mera fuga,
inútil fuga, pois está a fugir
unicamente de si mesmo.
Não quer encontrar consigo.
Não quer achar-se. Melhor perder-se.
Emoções destrutivas,
somatizando-se numa maresia gástrica,
numa pontiaguda dor
que insiste em agredir as têmporas.
Uma tortura particular,
uma espécie de holocausto individual.
Mergulhando em intenso sofrimento,
perdendo os objetivos.
Tendo a impressão de estar nu,
sentindo-se vulnerável.
Achando-se desprotegido,
querendo se isolar de tudo.
Sentindo crescer
o impulso de ódio e raiva,
vendo a sua imagem no espelho
e desejando quebrá-lo.
Alimentando com sua frustração
o fogo da agressividade.
Desapontado, tendo ímpetos
de esmurrar-se punitivamente.
Sim, uma punição, não conseguia
sentir misericórdia de si.
Quando muito uma autopiedade
que o fazia de vítima,
para logo depois quase se enfurecer
com este sentimento.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 24/05/2009
Código do texto: T1612584
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