Folhas Secas
O vento sopra nas folhas
As folhas batem contra a parede
Em seu leito de morte
O movimento constante das coisas
Ainda te deixa contente
Minha velha
A senhora não chora nem na dor
Foi você quem me ensinou
Que a maior dor é o amor
Que preocupa, que devasta,
Que diminui o tempo
Que a vida arrasta
E ainda me lembro
Do quanto nos amamos
Em algum momento
Depois com o passar do tempo
Os cabelos embranquecem
E todo aquele fogo, aquela chama
De quem ama
Apaga...Padece
Comecei a duvidar de seus preceitos
Deixei de acreditar que seria um assassino
Se matasse de propósito uma formiga
Nunca mais beijei seus lábios
Nunca mais abracei uma arvore
E a chamei de amiga
Não acreditava mais na sua paranóia
E olha quanta vida eu perdi na aurora
Agora, no crepúsculo
Vejo que é tarde
Você já estar quase morta
Só falta o tumulo
E o padre
Mas não tenha medo
Seu velho estar aqui
Segurando suas mãos tremulas e geladas
Vou ver você partir
E quando devia chorar
Você sorrir
Muito contente
Porque o vento sopra nas folhas
E as folhas batem contra a parede
***Certa vez vinha de metrô do Carandiru até o São Joaquim, chegando na Estação Santana, entrou um velho, muito branco e olhos bem azuis...Havia muito lugar pra sentar, pois era uma manhã de domingo e o metrô estava bem vazio.Mas ele resolveu sentar do meu lado e contou que ia até as Clinicas , visitar sua esposa, mas sabia que era uma das ultimas visitas, pois ela estava a beira da morte. Ele me falou de todo o amor que sentia por ela e que sentiu, de tudo que ela ensinou a ele com a mania que ela tinha de filosofar o mundo e de como o amor foi se desgastando com o tempo. No fim, chegou minha hora de descer, o velho apenas disse adeus e encheu os olhos d'água. Quando cheguei no meu cursinho, escrevir um poema inspirado pela historia e recentemente o perdi, por causa de um problema no meu computador. Esforcei-me pra lembrar de alguns versos, lembrei da história e o remontei "Folhas Secas"...