Acêrto de Contas

O amor, a flor, o fruto

A cor, rosas não discuto

A carta, o papel, o poema

As letras, a pauta serena

O café no linho derramado

O pano de manchas bordado

O vinho no copo sangrando

O queijo a beijo gostando

O cigarro, a fumaça, a cinza

Que cai, pelo tapete pinga

O corpo, a pele, o calor

A morna luz, o prazer, a dor

O tempo, a briza, a falta de tempo

A vida se engana no alento

O corpo, o copo, o sarro

O calçado manchado de barro

O copo sangrado, os lábios

A solidão em dobro, o presságio

O tempo curto, o têrmo

O amor eterno, o êrro

As palavras, os dedos, o malôgro

O futuro não mais, o rôgo

A música, lilás, se apaga

A luz, sem mais, se acaba

Dois olhares tristes se afagam

Dois corpos quites se afastam