_____________Harakiri.*
Eu escolhi, a despeito de ti, seguir...
Consumias-me em tardias dores
Agora liberto-me de ti num abduzir.
Busco de volta as minhas rimas, as insanas palavras
Acaricia meu olhar o nada e me sinto vazia e quase feliz.
Minhas mãos de seda já não te alcançam
E o teu carinho já não me açoita na escuridão.
E o incômodo do exílio de ser...esse escoou na solidão.
Hoje...decido pela asfixia dos gemidos e dos suspiros
De qualquer melodia que me remeta saudade
Embrulho em papel de seda as quimeras
Banho-me em águas de rosas perfumadas
Na ânsia de lavar-me de tuas promessas.
Guardo somente os bilhetes pintados de amor
Quando o louco desejo nos roubava a calma
E os atrevidos “ts” invadiam as voláteis madrugadas.
Meu sentir vestiu suas guerreiras vestes
Compôs o derradeiro e último poema
Purificou-se entre versos o corpo e a alma
E despediu-se num harakiri de palavras.
Hoje...escolho a euforia triste do silêncio
Abafando os sons do pulso do teu coração
Soprando ao vento a possibilidade de recomeço.
Emudeçam em prata as estrelas e a lua
Hoje...não escuto o poeta...nem a poesia
Faz-se silêncio reverente a minha dor da despedida
Hoje...só a solidão de não ser é minha companhia.
Karinna*
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NOTA:
Harakiri
Para evitar a desonra da captura ou a vergonha de sair vivo de um duelo quando derrotado, o samurai- classe guerreira do Japão feudal- praticava um ritual chamado harakiri. Tal suicídio se baseava numa morte lenta e dolorida, em que o samurai fincava uma pequena espada ao lado do abdômen e cortava o próprio ventre de uma ponta a outra. Porém, antes de atravessar o abdômen com uma lâmina, era feito todo um ritual, que ia desde a composição de um POEMA de morte por parte do samurai, até um banho de purificação do corpo e da alma.