_____________Harakiri.*

Eu escolhi, a despeito de ti, seguir...

Consumias-me em tardias dores

Agora liberto-me de ti num abduzir.

Busco de volta as minhas rimas, as insanas palavras

Acaricia meu olhar o nada e me sinto vazia e quase feliz.

Minhas mãos de seda já não te alcançam

E o teu carinho já não me açoita na escuridão.

E o incômodo do exílio de ser...esse escoou na solidão.

Hoje...decido pela asfixia dos gemidos e dos suspiros

De qualquer melodia que me remeta saudade

Embrulho em papel de seda as quimeras

Banho-me em águas de rosas perfumadas

Na ânsia de lavar-me de tuas promessas.

Guardo somente os bilhetes pintados de amor

Quando o louco desejo nos roubava a calma

E os atrevidos “ts” invadiam as voláteis madrugadas.

Meu sentir vestiu suas guerreiras vestes

Compôs o derradeiro e último poema

Purificou-se entre versos o corpo e a alma

E despediu-se num harakiri de palavras.

Hoje...escolho a euforia triste do silêncio

Abafando os sons do pulso do teu coração

Soprando ao vento a possibilidade de recomeço.
 
Emudeçam em prata as estrelas e a lua

Hoje...não escuto o poeta...nem a poesia

Faz-se silêncio reverente a minha dor da despedida

Hoje...só a solidão de não ser é minha companhia.

Karinna*
**
*

NOTA:
 Harakiri
Para evitar a desonra da captura ou a vergonha de sair vivo de um duelo quando derrotado, o samurai- classe guerreira do Japão feudal- praticava um ritual chamado harakiri. Tal suicídio se baseava numa morte lenta e dolorida, em que o samurai fincava uma pequena espada ao lado do abdômen e cortava o próprio ventre de uma ponta a outra. Porém, antes de atravessar o abdômen com uma lâmina, era feito todo um ritual, que ia desde a composição de um POEMA de morte por parte do samurai, até um banho de purificação do corpo e da alma.

Karinna
Enviado por Karinna em 06/05/2009
Código do texto: T1578951