a vida numa curva

mesmo que o mundo acabe amanhã

mesmo que todos os sonhos deixem de nascer

mesmo que os problemas superem nossa capacidade de pensar numa vida melhor,

saiba que te amei demais.

mais do que se possa imaginar.

mais do que a força de um sol distante

mais do que eu podia ser...

injusto é o mundo de um cara que não sai pelas tangentes,

que não se explode junto aos sentimentos

deixando transparecer todas as suas desventuras;

mais injusto é estar lado a lado mais de uma vida

sonhando com um momento de harmonia

e colher os frutos de amor platônico

amargo como o sabor natural dos desamores.

ser conforto pros dias tristes e gelados de junho

sem pedir nenhum sorriso em troca

é um dom quase sobrenatural;

estar ao lado e não reagir

é como ser geleira em pleno glacial de inverno

estático por natureza

e frio por não conseguir se libertar...

liberdade.

que mais poderia refletir a liberdade

senão uma chance, uma única chance

de ao menos tentar uma vida melhor?

que mais poderia representar a comemoração de uma vida

que andou por dias inteiros

em busca de um único segundo de harmonia

que nunca pode se fazer real?

às vezes,

a vida tem de sair de nossa alma

temos de buscar conforto na solução da vida dos outros,

simplesmente pelo fato de não podermos fazer nada para construir os sonhos de nossa própria vida;

é ruim e difícil ter de abandonar o barco

e é exatamente essa a sensação quando se deixa a própria vida em busca de algum conforto distante.

mas a vida tem de ser desgarrada

e tudo que construímos, passa a ser poeira

de um universo quase sem medidas.

é melhor se apoiar em fatos da vida concreta,

na tentativa de solucionar a vida daqueles que tentam viver,

do que apostar num amontoado de sonhos mal vestidos

que mais se parecem um espantalho.

e espantam mesmo, afastam tudo.

e quem se parecia sozinho, acabou ficando sem destino

sobrando apenas a solidão de companhia.

justamente aquele garoto que tem medo do escuro,

ficando horas esperando alguém lhe chamar na porta.

então sozinho a vida lhe brinda algumas derrotas,

e mais difícil que aceitar o fracasso

é entender como essa coisa toda segue desembaraçada rumo a um horizonte incerto.

estranho amar alguém que não lhe retribui,

porque outras mulheres poderiam recobrir essa lacuna

mas a vida passa e nada é igual.

perceber que o tempo parou é ruim;

pior ainda é estar preso numa teia do tempo

que nunca libera quem deveria estar distante.

sonhei com dias distantes

e estive fraco para a luta.

agora me sinto estranho

justamente por estar apático diante da luta de séculos.

e lutar é o melhor verbo:

lutar contra o próprio consciente,

lutar contra a vida no espelho,

lutar contra os sonhos que batiam a janela.

por que lutar contra sonhos?

vai saber...

a vida se fez peculiar,

e o tanto que tentei amar as outras mulheres

se reverteu contra o tanto que tive que te amar,

sem receber seu carinho.

então segue a vida,

num embaraço sem conta.

ou melhor, a vida que não segue

é justamente aquela que perdi

quando tentei montar sentido num mundo injusto.

estar com você hoje parece detalhe,

diante de tantas turbulências no caminho.

quem vai recuperar essas falhas?

o tempo, novos ares, novos sonhos?

ou um sinal qualquer de fim de jornada?

seguem os prantos,

quebram as ondas...

sempre na mesma costa, da mesma forma,

como se a lua fosse mesmo a dona das marés,

e fizesse tsunami em cada noite perdida.

de bar em bar,

quase sem paz, segue aquele insano

que não espera nada além de um segundo,

um sonho, ou uma paz

que ficou escondida num canto qualquer.