Eutanásia

Enquanto caminhava na branca areia, chorava

Lágrimas brotavam teimosas, e tristes deslizavam

Mansas, transportavam pelo meu rosto minhas dores

Suaves, eram minhas pegadas mais fortes na areia

Ia lívido, atormentado por minha humanidade

O que me afligia era universal, pretérito e distante

Meu flagelo era existencial, e me impulsionava...

O mar, que me atemorizava e seduzia, seria a solução?

Remoía minhas crises, justificando minhas atitudes

Que iminentes, calariam meus detratores e cada senão

Redimindo-me diante do universo em desarmonia

Libertando-me, criando novas possibilidades enfim

Tudo me parecia irremediável, e a purificação estava ali

Nas águas, estava o meu futuro, a gênese do recomeço

As vozes dos meus interlocutores cessariam em breve

Caminhava solitário rumo ao mar, à imensidão...