BLADE RUNNER (adaptação de um poema a uma música clássica)

Bate o sino

pequenino

lá bem no cimo

da igreja

passa ao fundo

da avenida

aquela que ninguém corteja

Sobre a ponte

por ela atravessada

corre um rio

estilizado

esterilizado

a caminho

do cardeal

É um ponto

geográfico

para onde todos vão

só há um que não o faz

faraónico

anti-razão

Bem no alto

da última casa

dessa cidade

vive um sábio

desolado

pelo tamanho

da sua imortalidade

Por cima dele

demasiado longe

vai um barco

a voar

procura-o insistentemente

mas nunca

o irá encontrar

Perde-se na grandeza

do centro

mas paira, sem parar

podia ser um vingador

funcionário público

a fazer horas

antes de se ir deitar

Querem-no completo

no seu âmago

intacto

querem-no de alma

para continuarem

de facto

Cidade gótica

demasiado

transcendente

vivem em si

os restos

de nós dementes

No enjoo

das ruas

inúmeras

perdeu-se

o sentido

da humanidade

caçada

a peso de ouro

pelos órfãos

da variedade

Jogo

Cibernético

o dever

e a ordem

de arma

em mão

há uma falha

há que matá-la

na ilógica

ingratidão

Jogo

de espelhos

Primus

Inter pares

no calor

da tecnologia

incinera-se

quem nela

vive

sem porfia

Por isso

e por nada

ele foge

sem saber

porquê

mestre

na arte

do nada

espera

não esperando

a sua vez

Depois vem outro

e mais outro

cruzada sem herói

mas como apanhar alguém

que tudo perdeu

que tudo o que tem

destrói?

Viu momentos

perderem-se

no tempo

como lágrimas

na chuva ácida

pecado maior

a ser

exorcizado

num holocausto

que fez dele próprio

sua máxima

Poema protegido pelos Direitos do Autor