AVENIDA GETÚLIO
Minha Avenida está morta
Dobrou sua última flor
Ninguém mais dela se importa
Nem conforta a sua dor.
Terra crua e imundícies
Vazam sobre seu canteiro
Em sua nua superfície
Não mais pisa o jardineiro.
Contrapõe-se o negro manto
Cada dia mais extenso
Urge que precisa tanto
Esse manto tão imenso?
A Getúlio não mais posa
Aos olhares de quem passa
Nem mais vinga uma rosa
Até a prosa já se escassa.
As matizes de outrora
Que encantavam o andejo
Acinzentaram-se há horas
Pelas moras e fraquejo.
O mor e seu jardineiro
Da manta negra são fãs
Sonham ver pelo canteiro
Tapetes gris nas manhãs.
A última flor plantada
Foi notada no Natal
De fibra pet empilhada
Sobre rosa natural.
Que saudades das roseiras
Em fileiras nas calçadas!
Das roubadas costumeiras
Às faceiras namoradas.
Contigo, minha Avenida
Logo, logo também morro
Por desgosto à tua vida
Sem guarida e sem socorro.