Impressões tão enganosas...
Nada é mais vil e provinciano
Que deixar-se ir pelas aparências
Traduzir conforme a sua demência
Senil que pariu da inconsciência
Esse tal de levar ao pé da letra
É o mal que assola a tua viola
Como quem tem titica na cachola
Interpretar uma moral sem calçola
Como sofre o tal poeta que consola
A viúva, amante, solteira ou a casada
Procurando apenas soltar seus versos
Sem se preocupar com quem atravessa
Dessas comadres infelizes linguarudas
Que se ocupam de viver doutras vidas
Promovendo a discórdia e a desdita
Com fofocas de suas bocas malditas
Assim o poeta se cala e aquieta a boca
Para não alimentar as infelizes na toca
De sua lavra, nenhuma só mais palavra...
Apenas servirá de bandeja seus poemas
Aos puros, verdadeiros e sem dilemas
Que entendem que a arte tem seus dramas
Que não se sufoca a quem tanto se ama
Deixando-o livre para voar a sua chama
E quem vive assim nunca se engana...
Nem dá bucha de canhão aos sacanas
Por crer que o que vale é ser bacana
E vai dormir inocente como uma criança
Hildebrando Menezes