A dor da perda
(A todos aqueles que perderam seus amados
nas chuvas de 2008, em SC)
A dor da perda não passa fácil, não vai embora rapidamente.
A dor da perda é como as nuvens: vão e vêm sem fim.
Da mesma forma acontece com a dor da alma
que a dor da perda deixa.
São lacunas que não podem ser preenchidas a todo instante.
Ninguém está livre dessa dor.
Ela se instala no coração e aperta.
Comprime a respiração e abafa o choro.
É uma dor doída, dolorida, muita sofreguidão.
A dor da perda se alastra como erva daninha e machuca fundo, profundamente na alma.
Há uma ardência que se aloja entre os músculos cardíacos
e fica ali, arranhando sem cessar.
Não há palavras que consolem a dor da perda.
Não há abraço que aquiete o sofrimento e o faça diminuir.
Ela aumenta e cresce em si,
não deixando lugar à esperança.
Os olhos empalidecem de tanta tristeza,
os braços parecem prolongamentos das lágrimas,
suplicando um alívio.
A falta que a pessoa faz não tem medida humana
que possa mensurar; é outro tipo de comprimento.
Os dias são entruncados, turbulentos e vagos.
As noites, intermináveis e vazias.
A brisa já não circula, as folhas estão estáticas,
os pássaros emudecem. A dor está por todo canto,
escandalosamente aflita, fugaz, silenciosamente espreitando.
Quem passa a dor da perda que atinge a alma
também sente a sequidão do espírito,
espremido entre a consciência e a intuição.
A dor física pode ser tratada,
há medicações de toda gama possível.
A dor da perda é significante e contundente.
Habita lentamente cada pessoa sem pedir licença para se infiltrar.
A dor da perda pode matar!
São Paulo, 27 de novembro de 2008.