ADEUS ALMA

Solto-me rastejando

em suspiros venenosos,

envenenando o rosto com mágoa.

Sento-me triste

num banco de jardim áspero

onde as árvores são sacudidas

por vento de saudade que sopra no peito.

As plantas vergam-se

à amargura que engulo a seco

e as flores mais belas bebem-me as lágrimas.

Pela mão do tempo morto,

leio desfocadas as minhas mãos num nada,

tão sólidas e gélidas arrefecendo-me o corpo.

Sou suicida à flor da pele,

onde explosões de rugas marcam carências

que os meus desejos rogam e invocam nesta gruta.

Os pássaros orquestram

cadências fúnebres no ar poluído

com choros de dor que o meu olhar larga

ao largo do horizonte com gritos deprimidos,

rompendo um buraco negro que me suga até si

ao centro de um jardim onde sou estátua de espinhos.

Outrora fui silhueta

de um corpo aprumado

hoje busto espinhoso de horrores,

dissabores plantados no meu chão rugoso

que piso descalço ensanguentado em atritos cortantes.

Trago desilusão

ponte e aguda cravada no teor do dia,

saudade pelo tão pouco que peço e não tenho

e a raiva exibe-se volumosa ao revistar os sentimentos.

Dormem monstros famintos de sonhos

e vermes sedentos de beber toda a minha esperança

no caminho de olhos postos nos textos escritos no chão.

Nunca a minha alma esteve abruptamente longe de tudo.