UM POEMA
Eu tento ocultar meus segredos
Tento fingir que minha vida tem sentido
E que meu futuro é cognoscível
Eu invento maneiras de me ocultar
Atrás daquilo que não existe
Que invento
Tento fingir que sou alegre
E que não preciso constantemente de companhia
E que sinto prazer nesta solidão medonha
Tento evitar aquilo que sei que é inevitável
Pois o destino é incontestável
E, por mais que eu negue,
O meu fado é imutável
Tento dissimular uma esperança
Pintada a aquarela
Uma esperança azul nímio
Azul enjoado
Azul abstrato
A esperança é algo que inventamos
Para adiar o dia da aflição
O dia em que “cai a ficha”.
É só uma enganação
Só serve para encobrir
As feições angustiadas
Exteriormente
Mas nós sabemos que não estamos bem
E insistimos, muita vez, em estar
Ah! Que basbaquice!
Que tolice!
Eu quereria ser assim:
Se estou triste, vou olhar triste para as pessoas
Para que elas saibam meu verdadeiro estado
E, se alegre, vou sorrir para elas
Haha!
Mas as cousas nem sempre são como queremos
E muita vez, temos que dissimular por necessidade
Vital
Mas, e bem, já vou logo terminar este poema
Porque está me dando enojo
E, como agora já estou melhor,
Deixo-o para qualquer desocupado
Que esteja disposto a lê-lo.