Gastar a dor
É cedo, então, permita-me sentar agora,
levar as mãos à cabeça,
chorar por quem foi embora,
até que, com demora, anoiteça.
Permita-me sofrer a partida,
exteriorizar esse pranto contido,
até que cicatrize, da dor, a ferida
e eu convença-me de jamais ter sofrido.
Deixa-me aqui quieta e recolhida,
ocupando um pequeno espaço,
bem sei que dor é fase da vida,
daqui a pouco a supero e passo...
Ma por hora, deixa-me aqui,
é o que peço, nada mais,
permita-me gastar essa dor,
proferir todos os meus ais...
Consente, então, que eu aqui permaneça,
num canto gastando esse sofrimento,
até que por ele eu já não mais padeça
por tê-lo, todo, gasto num só momento.