Nua

Abrem-se as cortinas

A função vai começar

Todos tomam seus lugares ante o palco das ilusões

Copos tintilam às mesas e as luzes se enfraquecem

Ela está no palco

Seu corpo se move ao som da música

E a cada batida mais forte

Uma peça de seu vestuário é jogada à platéia sedenta

Seus seios delicados balançam rente ao chão

Enquanto esfrega a virilha no mastro de dança

Na platéia em alvoroço

Homens se tocam oferecendo dinheiro à prostitutas baratas

Levam-nas ao quarto e ejaculam precocemente

Pensando no corpo dela

O bar vende bebidas e corpos descartáveis

Enquanto ela ainda dança

Jogando o cabelo para trás e derramando cidra em seu torso

Lambendo seus mamilos e dedilhando sua vagina

Seus espectadores se agitam sujando chão e palco de sêmen

E enquanto ela se retira recolhendo as gorjetas

Ouve baixarias e propostas sujas

No camarim apodrecido

Pílulas calam suas lágrimas afogadas em conhaque puro

Assim é a vida dela

Todas as noites de todos os dias

Uma escolha errada a levou a um caminho sem destino

Mas ela não desiste e continua sem se queixar

Sozinha naquele prostíbulo

Fora do palco e à luz do dia ninguém sabe seu nome

Seu corpo está nu mas sua alma jamais é revelada

Mesmo que ninguém realmente se importe

Fecham as cortinas

Mas o ato não se encerra

Pois a vida continua

Segue ininterruptamente

Querendo-a ou não

Sailor Paulino
Enviado por Sailor Paulino em 16/03/2009
Código do texto: T1488933
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