Nua
Abrem-se as cortinas
A função vai começar
Todos tomam seus lugares ante o palco das ilusões
Copos tintilam às mesas e as luzes se enfraquecem
Ela está no palco
Seu corpo se move ao som da música
E a cada batida mais forte
Uma peça de seu vestuário é jogada à platéia sedenta
Seus seios delicados balançam rente ao chão
Enquanto esfrega a virilha no mastro de dança
Na platéia em alvoroço
Homens se tocam oferecendo dinheiro à prostitutas baratas
Levam-nas ao quarto e ejaculam precocemente
Pensando no corpo dela
O bar vende bebidas e corpos descartáveis
Enquanto ela ainda dança
Jogando o cabelo para trás e derramando cidra em seu torso
Lambendo seus mamilos e dedilhando sua vagina
Seus espectadores se agitam sujando chão e palco de sêmen
E enquanto ela se retira recolhendo as gorjetas
Ouve baixarias e propostas sujas
No camarim apodrecido
Pílulas calam suas lágrimas afogadas em conhaque puro
Assim é a vida dela
Todas as noites de todos os dias
Uma escolha errada a levou a um caminho sem destino
Mas ela não desiste e continua sem se queixar
Sozinha naquele prostíbulo
Fora do palco e à luz do dia ninguém sabe seu nome
Seu corpo está nu mas sua alma jamais é revelada
Mesmo que ninguém realmente se importe
Fecham as cortinas
Mas o ato não se encerra
Pois a vida continua
Segue ininterruptamente
Querendo-a ou não