OS BRAÇOS NEGROS DE HIROXIMA - Homenagem aos mortos da Bomba Atómica lançada sobre Hiroxima a 6 de Agosto de 1945-
Olhos cegos
Que vêem
Não crendo ver o céu
Porque do céu veio o juízo final
O dia dos dias
O anjo da morte
Silhueta de criança
Gravada num muro como uma sombra
Porque depois da ave com estrelas no seu dorso passar
Em todas as infâncias do mundo
Foi usurpada a inocência
E todas se transformaram em sombras
Um derradeiro beijo
Antes do holocausto
Um rasgo de amor
Último gesto de humanidade
Na véspera das trevas
Caracteres desenhados a carvão
No doce e suave papel oriental
Por uma mão onde a vida exercia o seu natural direito de existir, de criar
Mas o vento soprou a tempestade
E após ela passar
O carvão prolongou-se para o braço
E o corpo
Deixando assim uma estátua negra de horror para a posteridade
E os braços negros de Hiroxima
Abraçaram o cogumelo
Prenhe de átomos em demasiada agitação
Que abortaram algo de demasiado monstruoso sobre a cidade de papel
Abrindo uma nova Era para toda a Humanidade
Uma Era
Que nunca devia ter acontecido
E a cada Agosto
Eu choro de nojo
Revolta
De vergonha
Por saber
Que foram humanos
E não demónios
Que criaram
Os Braços Negros de Hiroxima