OS BRAÇOS NEGROS DE HIROXIMA - Homenagem aos mortos da Bomba Atómica lançada sobre Hiroxima a 6 de Agosto de 1945-

Olhos cegos

Que vêem

Não crendo ver o céu

Porque do céu veio o juízo final

O dia dos dias

O anjo da morte

Silhueta de criança

Gravada num muro como uma sombra

Porque depois da ave com estrelas no seu dorso passar

Em todas as infâncias do mundo

Foi usurpada a inocência

E todas se transformaram em sombras

Um derradeiro beijo

Antes do holocausto

Um rasgo de amor

Último gesto de humanidade

Na véspera das trevas

Caracteres desenhados a carvão

No doce e suave papel oriental

Por uma mão onde a vida exercia o seu natural direito de existir, de criar

Mas o vento soprou a tempestade

E após ela passar

O carvão prolongou-se para o braço

E o corpo

Deixando assim uma estátua negra de horror para a posteridade

E os braços negros de Hiroxima

Abraçaram o cogumelo

Prenhe de átomos em demasiada agitação

Que abortaram algo de demasiado monstruoso sobre a cidade de papel

Abrindo uma nova Era para toda a Humanidade

Uma Era

Que nunca devia ter acontecido

E a cada Agosto

Eu choro de nojo

Revolta

De vergonha

Por saber

Que foram humanos

E não demónios

Que criaram

Os Braços Negros de Hiroxima

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 10/03/2009
Reeditado em 10/03/2009
Código do texto: T1479339
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