CURRÍCULO ...

Não sei porque me calo

ao jugo das derrotas,

sem lutar, sentindo temor pelo amanhã.

Me calo ao peso da incredulidade,

sem sentir que posso ser gente,

ter direitos, ser líder.

Calo-me no silêncio crepuscular,

nas noites de angústia.

Fecho-me entre a vida e o existir

colhendo apenas restos, fragmentos de felicidade.

Ah, psicoterapia infrutífera,

em mim não há lugar para objetivos,

sou falho, nulo como relva seca.

Sou agreste no interior,

terra árida sem anseios.

Sou fechado aos intrusos,

abandonado pelos que me cercam.

Sou feito de histórias malfadadas,

de águas turvas em leito barrento.

Sou tempestade em céu cinzento

e vermelho em sangue derramado.

Sou a própria derrota em forma de gente.