A DONA DE UMA SÓ POESIA

A DONA DE UMA SÓ POESIA

Qual de vocês se faz compreensão?

Se abro a dor no momento exato

que aspiro o pó de onde vim

E centenas de envenenadas flechas

cruzam meu peito?

Aqui, agora, eu de braços abertos

desconsolada e em prece

vislumbro o sorriso

que desenhei em sonhos

e o sentimento parido

se transforma

em sentimento partido.

O verbo ecoa translúcido,

mas é incompreensível.

Sinto em mim uma negra pérola afogada

num grito sem eco.

E o rugido do leão morto rasga a vida.

Finda a consciência.

Fecho a alegria

no exato momento em que respiro saudade,

Mas a vida e ao pó voltarei e não irei triste.

LÍGIA SAAVEDRA