céus desencontrados
Céus assim eu conheci um dia
Um azul destes, tão leve e puro, eu pude admirar
Ai, que hoje meus olhos não conseguem contemplar essa dimensão viva
Já não sustentam tanta beleza, tanta inocência, como dessas nuvens
Essas parcas nuvens retorcidas, brancas, espalhadas aleatoriamente
Elas, que nem se movimentam por falta de vento, sob esse azul insuportável
Aprender ser adulto é fácil, aprender a ser sábio e recordar da criança que não deve morrer é obra de sobre-homens
E guardar pequenas lembranças é pura escravidão
Troca-se roupas, cheiros, músicas, mulheres, mas a vida insiste com sinais de recordações
E desses não se escapa, desses não se desfaz, desses laços o homem é servo
E céus assim já não sei enxergar, esqueci da criança
Hipocampo e córtex, e as relações estão cortadas
Já não se lembra, já não se aprende, já não se vê
E assim se esvai o que não deve exaurir
Como se o vento viesse de repente e soprasse as nuvens que se desmancham facilmente
Ai, que o vento hoje bate sobre mim, que sou nuvem cinza.
Será que vou chover?