Abstrato
Lembrada sem saudade
Sem emoção
Algo sem valor
Como um objeto jogado ao canto
Ou só um brinquedo que perdeu o encanto
Sinto saudade de algo que nunca existiu
Da vida que expirou
Da morte que já vivi
Da alegria que entristeceu
Do sorriso que pranteei
Da alma que não me pertenceu
Dos verbos que não proferi
Dos amores que jamais amei
De pessoas que não conheci
Da água que me secou
Do fogo que me gelou
Dos mortos que nunca viveram
Das lembranças que se perderam
Da escuridão que brilha
Do sol que me escurece
Do sangue lívido que desce pela face
Repleta de lágrimas que não entregarei
E de um coração que jamais existiu
Mas soube amar o abstrato