Perdoa este ser que para você morreu.
Dirija-me teu olhar, ainda que seja pela última vez e me perdoe.
Perdoe-me os dias em que vivi muito perto de você fisicamente mas a uma distancia de milhões de anos luz.
Perdoe-me a minha intolerância e meu gênio mal.
Perdoe-me por deixá-la esperando nas altas horas da noite com seu coração aflito e um medo imensurável de me perder.
Perdoe-me o desprezo e a solidão que lhe dei.
Perdoe-me não estar presente quando você precisava de mim.
Perdoe-me os dias em que não notei seu penteado novo e não visualizei em você o amor que me deu.
Perdoe-me quando provei do prato especial que você fez só para mim, e eu não comentei.
Perdoe-me por deixar um abismo se abrir entre eu e você.
Eu não queria isso, Não era para ser assim.
Perdoe-me.
Perdoe-me quando eu cego da razão fugi no meio da noite, procurando um sonho que já não era meu.
Perdoe-me as marcas impagáveis da dor que deixei no seu semblante.
Perdoe-me o medo que lhe causei. Nada disso era para ter acontecido.
Perdoe-me pelas viagens que não te levei e pelos presentes que não te dei.
Perdoe-me por não compartilhar com você as fofocas da televisão e as boas novas da família (casamento, aniversário, confraternização).
Perdoe-me por estar sempre desligado, alheado, absurdo, lógico e sem razão.
Perdoe-me por não mostrar a estrela cadente e da rosa o botão.
Perdoe-me por não te acordar de madrugada e te levar na alvorada para caminhar e ver o sol nascer.
Perdoe-me o meu silencio, o enervante silencio que me acometeu.
Perdoe-me, eu não sei o que foi que me aconteceu. Isto não estava planejado. Não era sinceramente para ser assim.
Perdoa esse ser que para você morreu. Perdoa. Perdoe-me.