TORMENTO

Eu fui inepto perante o aparato de teu fascínio indutor;

Fui leniente com o dissabor ao me entregar para o destino infausto;

Pífio e mesmo incauto, fui exequível à mais aguda dor;

Desestabilizador do homem bom que sou, por não fugir do seduzir nefasto!

Eu fui enaltecido pelo escárnio da desestrutura;

E tomei posse de uma investidura que tanto me desmereceu;

Reles plebeu na dinastia inexorável de minha tortura;

Embaixador de toda agrura, eu fui além do que a fértil amargura um já concebeu!

O ônus do percalço é o fotolito de minha própria caricatura;

Sinto meus passos sobre fervura, sinto meus olhos sob fuligem;

Como um bastardo sem origem e um condenado enjeitado pela clausura;

O extrato neutro da mistura dos mares de loucura que me afligem!

Numa assertiva promissora de alívio, eu só preciso me assegurar;

Se sou esse fantasma a me assombrar, é hora de enfrentar meu perecer;

Já não há meios de retroceder e a única saída é avançar;

Quisera ser capaz de me amar, quisera ser possível te esquecer!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 24/02/2009
Reeditado em 26/02/2009
Código do texto: T1455235
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