tropeço numa manhã de abril

naturalmente,

o que se há de fazer?

há um recalque de sobras na estrada

largadas ao canto feito descarte

obrigadas a se calar diante da alma;

quem há de julgar os sentimentos?

sobras de sentimentos puros e decadentes

que se enroscam na argila e na lama

arrastando por vários anos feito corrente de antigos escravos.

há uma emoção intercalada

prestes a estourar feito vulcão

na forma de milhões de palavras vertendo ágeis

e alcançando a cara das estátuas de bronze

que nada medem senão o tempo das aras;

um tempo bom parece previsto na bonança de abril

depois de passar toda turbulência dos olhares

e após o enterro absoluto de um coração.

triste, minuto de luto;

choro com aroma de terra molhada

a vida de lá se foi e quem vai construir pra cá?

quem vai admitir um recomeço do zero?

não há novo zero.

não há nova cara.

o que ficou?

apenas o hiato de um sonho

e a realidade incrustrada na estrada,

a mesma estrada que deve ser percorrida

independente das sobras de amor largadas na beira;

o passo deve continuar,

e a vida, quem sabe lá?