Ritual
E nos revolvemos
e nos reconstruímos
sob os açoites das perplexidades
do que é existir em corpo
no qual a alma confinada explode ...
e foi assim que, mais uma vez
me vi diante do enigma da morte
ao rever tua roupa
guardada há tanto tempo.
Então eu a lavei com carinho
e por um dia
enquanto secava e ocupava lugar
na paisagem que foi nossa,
eu te trouxe à vida de uma estranha forma.
Depois eu a recolhi com cuidado , vagarosa,
sentindo que revivias naqueles derradeiros e breves instantes.
E ao dobrá-las e deixar sobre a mesa eu ainda
adiava o inevitável momento em que, livres das tuas marcas,
do teu cheiro, lavadas pra sempre do teu derradeiro suor,
voltariam a ser simplesmente roupas.
E nos revolvemos
e nos reconstruímos
sob os açoites das perplexidades
do que é existir em corpo
no qual a alma confinada explode ...
Voa livre agora, voa...