ratoeira
por favor,
eu peço,
eu imploro
eu lhe rogo mil vezes
esperando uma resposta
esperando um aceno
esperando alguma expressão
na sua face
e, tudo que me ofereces
é indiferença
é olhar oblíquo de gitano
a esperar ciganamente pela sorte
pelo corte,
pela morte,
ou pelo mote
que me identifique
por favor,
por caridade,
por misericórdia,
não faça isso
não faça aquilo
simplesmente, não faça
não mate deliberadamente
meus sentimentos,
minha alma
o que vou fazer
com esse corpo inútil?
o que vou fazer
com os sons das palavras
a embalar ilusões,
mentiras ou
impropérios...
o que fazer com enorme silêncio
que há exatamente entre as mãos
nesse hiato
macabro e secreto
que o fazer?
apenas pedir em silêncio
e rezando
para não morrer
e, para não esquecer de amar.
Sob a mira de seu olhar míope e impiedoso
Sentido-me um rato morto
pego pela ratoeira.