O ESPELHO CEGO
Foi tão estranho chegar diante do espelho e nada ver;
Tentar me reconhecer no que haveria de me refletir;
Mas tanto que de mim eu esqueci, tanto que priorizei teu ser;
Que já nem pude mais me ter, que até do espelho eu parti!
Parti em direção a um reino de escuridão extremamente mendicante;
Que espera o sol a todo instante, que necessita sua luz;
Qual peregrino que mal se conduz num céu sem horizonte;
Com muita sede e nenhuma fonte, portando um ouro que não reluz!
Seguindo cabisbaixo no infortúnio dessa viagem tão estranha;
Ao som de íntima guaranha, naquele espelho ainda me procuro;
A mágoa é destino obscuro, a consequência é incoerente e tacanha;
Nem a justiça me faz façanha, e foi morar além do infinito muro!
É lá também que anda a musa de minhas noites vagas;
A quem as minhas dívidas foram pagas com meu entenebrecer;
Que nunca quis me amar e nem vou ter, que baila n'algum sonho que me esmaga;
Que mora nessa lágrima que hoje me flagra, e impede meu próprio espelho de me ver!