O ESPELHO CEGO

Foi tão estranho chegar diante do espelho e nada ver;

Tentar me reconhecer no que haveria de me refletir;

Mas tanto que de mim eu esqueci, tanto que priorizei teu ser;

Que já nem pude mais me ter, que até do espelho eu parti!

Parti em direção a um reino de escuridão extremamente mendicante;

Que espera o sol a todo instante, que necessita sua luz;

Qual peregrino que mal se conduz num céu sem horizonte;

Com muita sede e nenhuma fonte, portando um ouro que não reluz!

Seguindo cabisbaixo no infortúnio dessa viagem tão estranha;

Ao som de íntima guaranha, naquele espelho ainda me procuro;

A mágoa é destino obscuro, a consequência é incoerente e tacanha;

Nem a justiça me faz façanha, e foi morar além do infinito muro!

É lá também que anda a musa de minhas noites vagas;

A quem as minhas dívidas foram pagas com meu entenebrecer;

Que nunca quis me amar e nem vou ter, que baila n'algum sonho que me esmaga;

Que mora nessa lágrima que hoje me flagra, e impede meu próprio espelho de me ver!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 10/02/2009
Código do texto: T1431377
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