EU E A TEMPESTADE
Fortes pancadas de chuva castigam a tela de vidro;
Na extensão do meu ouvido grita o silêncio que se propõe dilacerar a esperança;
O sol agora é só lembrança, nas veias corre o granizo;
A enxurrada levou o meu juízo, ficou a inundada intemperança!
O chão parece estremecer durante o estrondar das trovoadas;
E as lágrimas precipitadas se igualam aos caldos escorridos na janela;
Vejo esmiuçada a invulnerável cidadela, sinto as flores de outrora hoje aladas;
E suas raízes alagadas serão um sonho erosado que agora se revela!
Já não me importo com os raios furiosos dessa intensa tempestade;
Há outra mais imensa majestade, que me obriga a ser palhaço em seu palácio;
Não resta o perfumado ar acácio, pois todos os aromas são saudade;
Que me aprisionou a tanta infinidade que há no show funesto desse estágio!
Há um dilúvio apavorando a natureza, há uma soma deste cujo dentro em mim;
Por lá as gotas terão fim, aqui virão transbordações;
Calem-se minhas emoções e sintam o que resta entre o pavio e o estopim;
E se um dia o céu aberto disser sim, eu fugirei para o refúgio de outras estações!