EU E A TEMPESTADE

Fortes pancadas de chuva castigam a tela de vidro;

Na extensão do meu ouvido grita o silêncio que se propõe dilacerar a esperança;

O sol agora é só lembrança, nas veias corre o granizo;

A enxurrada levou o meu juízo, ficou a inundada intemperança!

O chão parece estremecer durante o estrondar das trovoadas;

E as lágrimas precipitadas se igualam aos caldos escorridos na janela;

Vejo esmiuçada a invulnerável cidadela, sinto as flores de outrora hoje aladas;

E suas raízes alagadas serão um sonho erosado que agora se revela!

Já não me importo com os raios furiosos dessa intensa tempestade;

Há outra mais imensa majestade, que me obriga a ser palhaço em seu palácio;

Não resta o perfumado ar acácio, pois todos os aromas são saudade;

Que me aprisionou a tanta infinidade que há no show funesto desse estágio!

Há um dilúvio apavorando a natureza, há uma soma deste cujo dentro em mim;

Por lá as gotas terão fim, aqui virão transbordações;

Calem-se minhas emoções e sintam o que resta entre o pavio e o estopim;

E se um dia o céu aberto disser sim, eu fugirei para o refúgio de outras estações!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 28/01/2009
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1408985
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