A TRISTEZA E O POETA

Quando entristece o poeta, uma fria chuva fina pega firme em sua veia

O inverno lhe incendeia, a crise sangra-lhe rimada

Seus passos viram remada, sua praia navega em painel que guerreia

Toxinas em lábios de sereia destilam qual suco sua imagem amada!

Bem logo ali desfaleceu mais um poeta em seu semblante

Então nasceu outra canção delirante, parindo flores com a dor de um enfarte

Por toda parte a lesão que reparte é fertilizante

Posto que seu surto agonizante é balaio gestante de pura arte!

A nau decola pelas entranhas doloridas de sua inquietude

As vias da solicitude não podem se calar à luz do amor a sofrer

É um morrer afinado como os rumores da boa saúde

Um entenebrecer que alude a um rude alvorecer!

O sofrimento julga o poeta seu concernente

Que até parece condizente desmerecê-lo perante a alegria

Mas é alma em sangria, é coma sobremodo deprimente

A tristeza do poeta de fato é semente, cujo fruto redunda em poesia!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 26/01/2009
Reeditado em 12/12/2011
Código do texto: T1405643
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