A TRISTEZA E O POETA
Quando entristece o poeta, uma fria chuva fina pega firme em sua veia
O inverno lhe incendeia, a crise sangra-lhe rimada
Seus passos viram remada, sua praia navega em painel que guerreia
Toxinas em lábios de sereia destilam qual suco sua imagem amada!
Bem logo ali desfaleceu mais um poeta em seu semblante
Então nasceu outra canção delirante, parindo flores com a dor de um enfarte
Por toda parte a lesão que reparte é fertilizante
Posto que seu surto agonizante é balaio gestante de pura arte!
A nau decola pelas entranhas doloridas de sua inquietude
As vias da solicitude não podem se calar à luz do amor a sofrer
É um morrer afinado como os rumores da boa saúde
Um entenebrecer que alude a um rude alvorecer!
O sofrimento julga o poeta seu concernente
Que até parece condizente desmerecê-lo perante a alegria
Mas é alma em sangria, é coma sobremodo deprimente
A tristeza do poeta de fato é semente, cujo fruto redunda em poesia!