Cantos da noite
Aqui nessa terra de lua cantante tão alta
A noite nos convida sempre a valsar em sua homenagem
Numa quadrilha de cores que voam
Uma virada de luzes das fogueiras onde amores crepitam
Nossos corações se tocam em abraços silenciosos
Suspiros abafados pela brisa fria que nos envolve
E nos sussurra poemas antigos
De colinas onde reinos perdidos da Irlanda descansam
De ilhas de rochas tão altas além de Finisterra
Ilhas que tocavam o coração do céu
E cortavam o véu das almas dos viajantes
Aqui nessa noite na praia galega
Nós nos vemos tão perto um do outro
Ao som da gaita que ecoa perdida pela noite em júbilos suaves
Nós nos damos as mãos e pedimos a paz aos que já se foram
Eles, que continuam no giro da roda dos mundos
Lá estão separados de nós pela vida
De olhares atentos contemplam os céus tão belos
Céus que já se colorem com o sangue escuro da alvorada
Então cantamos um para o outro
Sozinhos nas pedras tão altas nós nos olhamos
Nós tocamos os céus com as almas das folhas que voam
Com a passagem dos dias seguiremos novos caminhos
Mas um olhar tão terno não se pode voar assim tão facilmente
Uma dança de lobos no soar de flautas e tambores
Levaremos esses momentos conosco em nossas andanças
Pelas pedras na Bretanha dos santos nós iremos seguir
Percorremos cada um seu próprio destino
Além dos faróis das terras celtas tão imponentes e antigas
Pela costa da morte meu barquinho vai rumorejando triste
A chuva fina que vem dos mares fecha meus olhos em lágrimas
Logo ao amanhecer te vejo uma última vez na enseada
Descanso saudoso e despreocupado
Ainda embriagado pelos seus cantos e toques
Adormeço profundamente perdido na imensidão dos seus olhos
Tão negros, tão noturnos e belos.
Os cantos da noite me acompanham pelo dia que se torna ainda mais escuro
À medida que o vento me arrasta pelas praias asturianas
Vou rumo às ilhas tão longe, tão tristes e soturnas.
Onde o clamar dos lobos me invita a mais uma dança de sangue
E me seduz em andanças pela interminável noite nórdica
Atravesso os ciclos da vida e da morte sem perceber
E me entrego eterno em seus olhos embebidos de paz
Aqui descanso uma última vez ao som dos seus cantos e uivos
Rumo a noite que me espera em eterno silêncio