Litania ao Outono

Nem todas as folhas caíram.

Ainda há sombra que me aguarde

Neste fim de tarde.

O tapete vegetal inacabado

Sugere rastros e fugas melancólicas,

Embora nem esteja tão frio assim.

Talvez na alma.

É isto:

Chove na alma.

Por causa deste paraíso hospitaleiro,

estrangula-se o nó na garganta,

Liberta-se a prece que se repete,

Que se repete,

Que se repete,

Porque, só assim,

Faz-se eficaz.

Não me sinto vento

Nem palmeira,

Mas tenho meus murmúrios.

Segredos, não:

Teu silêncio desnuda

Todos os ícones funcionais,

Mesmo as conotações de profecia.

Por isso, quero a proteção

De transparência da janela,

Sempre que florescerem

As nuvens outonais.

Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 19/01/2009
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