adeus

entrego-te a deus

encomendo-te a deus

deus sabe de seus caminhos e hesitações

adeus à juventude

é imperioso envelhecer e

puir os trajes,

polir os ultrajes,

carcomer as margens do possível,

decifrar abismos

cavar outros abismos

inesperadamente

até o fim do túnel

adeus

entrego-te silenciosamente

de olhos fechados,

de corpo aberto

de alma despedaçada

retalhada pelas dúvidas paradoxais

adeus

tenho que ir embora

partir e não voltar

partir e não olhar para trás

seguir as reticências banidas da

realidade

Explorar o flancos

as frestas,

as arestas ínfimas,

o torvelinho.

adeus

às primaveras abortadas

aos invernos intensos

e áridos

ao deserto fulgurante

ao outono

que varreu as folhas

do esquecimento

adeus as paredes do quarto,

ao pulso aberto e latente

a esse corpo infeliz

a essa voz grave e forte

adeus ao sarcófago da moda

a necessidade

de ter cabelos alinhados

se os ventos os querem

em desalinho

adeus as retas infinitas,

as curvas tangentes,

as dores pungentes

a tudo que transita na vida

pois quero a meditação profunda

o nirvana mais absoluto e curar-me do

hipnotismo do carma

adeus

deuses chorarão sem trégua

pelas mortes dos humanos,

pelas guerras insanas,

pelos heróis banidos

e vitimados por sua própria escolha

adeus,

a partir de hoje

só haverá silêncio e saudade

reticência e raridade

ausência com requinte de perfume.

serei lembrança,

espectro,

holograma...

estarei na sombra e, não mais

adiante da luz.

pois a partir de hoje

estarei miscível

com a luz e as trevas.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/01/2009
Reeditado em 18/01/2009
Código do texto: T1391288
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