adeus
entrego-te a deus
encomendo-te a deus
deus sabe de seus caminhos e hesitações
adeus à juventude
é imperioso envelhecer e
puir os trajes,
polir os ultrajes,
carcomer as margens do possível,
decifrar abismos
cavar outros abismos
inesperadamente
até o fim do túnel
adeus
entrego-te silenciosamente
de olhos fechados,
de corpo aberto
de alma despedaçada
retalhada pelas dúvidas paradoxais
adeus
tenho que ir embora
partir e não voltar
partir e não olhar para trás
seguir as reticências banidas da
realidade
Explorar o flancos
as frestas,
as arestas ínfimas,
o torvelinho.
adeus
às primaveras abortadas
aos invernos intensos
e áridos
ao deserto fulgurante
ao outono
que varreu as folhas
do esquecimento
adeus as paredes do quarto,
ao pulso aberto e latente
a esse corpo infeliz
a essa voz grave e forte
adeus ao sarcófago da moda
a necessidade
de ter cabelos alinhados
se os ventos os querem
em desalinho
adeus as retas infinitas,
as curvas tangentes,
as dores pungentes
a tudo que transita na vida
pois quero a meditação profunda
o nirvana mais absoluto e curar-me do
hipnotismo do carma
adeus
deuses chorarão sem trégua
pelas mortes dos humanos,
pelas guerras insanas,
pelos heróis banidos
e vitimados por sua própria escolha
adeus,
a partir de hoje
só haverá silêncio e saudade
reticência e raridade
ausência com requinte de perfume.
serei lembrança,
espectro,
holograma...
estarei na sombra e, não mais
adiante da luz.
pois a partir de hoje
estarei miscível
com a luz e as trevas.