Milhões de Lágrimas
A deles... A vossa, a nossa iluminara nunca mais. Clarão nefasto, robusta gravura imortal, janela traçada ao chão. De quantos sabiam, com quantos se faziam, na cinza memória jaziam trabalhos, estados, calados de susto á tarefas... Um pouco, as dobras, manobras, remexer no parecer sem destino... Estão a salvo.
Prisioneiros do paraíso. Como canção temos trovão, as matas por mistério, a chuva distração, o dia e noite pra jogar com as sombras. Mas se o sol lavou o rosto como vou fazer com as sombras? A lua boiando num aquário ilimitado, como vou fazer com o escuro? A nossa espera transforma inferno, mostra um desumano tão bonito.
Fome, os pratos!
Fogo, a caverna!
Segundo, o tempo!
Olhar, medo!
Óculos, a certeza!
Corrida, as pernas!
Passado, a lembrança!
Tédio, a volta!
A noite bem estreita, bem rápida, habilidosa, atormentada. De ouvidos num lençol sem estampa acontece a imaginação. Lá fora é Deus quem manda. S olhos já não comandam, os gritos entram num único ritmo. Castigos de um sopro encantado. Só um rosto longe se move, deixa cair mais uma gota gelada na terra impura, esboçada em disformes cadáveres, em quase um mundo, restos de um lar.
Completamente amargo, totalmente grafite quase negro. Numa mordida do céu nos sonhos, por um descuido das chaves do hoje, tudo ficou assim.
Mata de uma vez pra não ser mais só. Faz ampliar a ferida natureza pra terminar de consumir a carne. Não há palavra, escalada brutal dos vocábulos tensos. Uma mão que desaparece, a alma que ficou pela metade.
Fechar, sentir!
Passos, solidão!
Janela, dor!
Perto, ansiedade!
Paixão, eternidade!
Pudor, alegria!
Sorriso, novo!
Ruído, recomeço!
E se por acaso chegar a presença, é a intimidade. Se por acaso chegar um carinho e as palavras doces, é a mente que continua fortaleza. Se por acaso chegar um sussurro idêntico, é o desejo. Se por acaso chegar a saudade, é a verdade. Mas se por acaso chegar a vida... É mentira!
Douglas Tedesco – 18.01.2009