O ANJO QUE NÃO AMEI
Quando a coragem me permite olhar diretamente a mim;
Vejo a própria feição do fim nesse crepúsculo humano que sou;
E o fel me viciou nessa fuligem que me cegou, pra não pensar num certo Querubim;
Que me descreve em seu folhetim, em cujas gentis asas meu coração já se afagou!
Aquele afeto alado me deu seus sacrifícios com denodo;
E o céu de iodo a me cobrir, o seu sorriso azulou;
Meus vitupérios perdoou, me resgatou de um doloroso fogo;
Não merecia as injustiças de meu jogo e nunca mereci o seu amor!
Ó fronteira da ventura com o remorso, traz de volta minha ilusão;
Salve-me de tão atroz condenação, que a ti levou meu anjo fugitivo;
Diz anelo meu que ainda há motivo, faz bater em retirada para mim seu coração;
E que meu pesadelo abrace a paz de seu perdão, na mansidão daquele colo abrigo!
Mas se não sou merecedor, como não fui até aqui;
E a depressão vier me reprimir, assumirei o que já sei;
Estou colhendo o que plantei, sofrendo o risco que assumi;
Felicidade que neguei eu já perdi, porque meu anjo eu não amei!