O ANJO QUE NÃO AMEI

Quando a coragem me permite olhar diretamente a mim;

Vejo a própria feição do fim nesse crepúsculo humano que sou;

E o fel me viciou nessa fuligem que me cegou, pra não pensar num certo Querubim;

Que me descreve em seu folhetim, em cujas gentis asas meu coração já se afagou!

Aquele afeto alado me deu seus sacrifícios com denodo;

E o céu de iodo a me cobrir, o seu sorriso azulou;

Meus vitupérios perdoou, me resgatou de um doloroso fogo;

Não merecia as injustiças de meu jogo e nunca mereci o seu amor!

Ó fronteira da ventura com o remorso, traz de volta minha ilusão;

Salve-me de tão atroz condenação, que a ti levou meu anjo fugitivo;

Diz anelo meu que ainda há motivo, faz bater em retirada para mim seu coração;

E que meu pesadelo abrace a paz de seu perdão, na mansidão daquele colo abrigo!

Mas se não sou merecedor, como não fui até aqui;

E a depressão vier me reprimir, assumirei o que já sei;

Estou colhendo o que plantei, sofrendo o risco que assumi;

Felicidade que neguei eu já perdi, porque meu anjo eu não amei!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 15/01/2009
Código do texto: T1385975
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