NA ESPESSURA DA NOITE
As vezes
quando mergulho em mim a noite
e sinto o sabor dessas cinzas
sob uma água já gélida,
escura longa noite espessa,
sem estrelas nem lua
nem íntimo, nem sonhos, pesadelos
tempo por demais lento, noturno
deixo-me caminhar terno, sem fim
terminando teatral, frívolo, trágico
de alegria substituindo medo
elegância substituindo sensibilidade
seco, sem vida, superficial
esperando um prazer vindo de alguém, além
vagando de portas permanecendo abertas
sem trancas, chaves, mistério decifrável
onde não há ninguém, só aquém
de um fênix de asa quebrada, sem vôo, vil
dotado de beleza estranha, marginal
diluída em água e cinzas
rumando ao mar, ao ar
no fogo consumindo-se até a aurora
purificar, no filtro da terra (puro
ficar e impuro ir) diluído
com a fumaça encobrindo luz
esse instrumento cáustico e silencioso
de captar a essência do cosmos,
do mundo, de Deus, de si.