NA ESPESSURA DA NOITE

As vezes

quando mergulho em mim a noite

e sinto o sabor dessas cinzas

sob uma água já gélida,

escura longa noite espessa,

sem estrelas nem lua

nem íntimo, nem sonhos, pesadelos

tempo por demais lento, noturno

deixo-me caminhar terno, sem fim

terminando teatral, frívolo, trágico

de alegria substituindo medo

elegância substituindo sensibilidade

seco, sem vida, superficial

esperando um prazer vindo de alguém, além

vagando de portas permanecendo abertas

sem trancas, chaves, mistério decifrável

onde não há ninguém, só aquém

de um fênix de asa quebrada, sem vôo, vil

dotado de beleza estranha, marginal

diluída em água e cinzas

rumando ao mar, ao ar

no fogo consumindo-se até a aurora

purificar, no filtro da terra (puro

ficar e impuro ir) diluído

com a fumaça encobrindo luz

esse instrumento cáustico e silencioso

de captar a essência do cosmos,

do mundo, de Deus, de si.

SB Sousa
Enviado por SB Sousa em 11/01/2009
Reeditado em 11/01/2009
Código do texto: T1378713
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