Saga de um Cabra da Peste (T106)
Nasci do ventre apodrecido de minha mãe
Sobrevivi porque sou forte e não me entrego na luta.
Fui criado como bicho do mato
Comendo as baratas e os insetos de minha casa.
A seca do meu grande Sertão,
terra que fiz de meu lar,
me deixaram sem alma , sem compaixão.
Compaixão não existe não , sinhô,
piso firme no chão, só vejo miséria,
isso é compaixão?, criar barriga e depois morrer.
Morrer de barriga cheia, cheia de verme
cheia de não comer nada.
O sertão é assim, cruel e desalmado
só os fortes a ele prevalecem,
é assim , quero ver sinhozinho viver aqui
agüentar o braseiro embaixo dos pés ,
não sinto porque não tenho pele, tenho é casco.
Viver aqui só eu mesmo
quem for com’eu sobrevive
senão cai fora , vai procurar sua vida em outras bandas.
Vou ficar aqui, esta é minha terra
meu lar , sem mãe quando nasci
sem pai quando cresci,
aprendi a me virar
morro por aqui, deixo só o corpo
a alma , esta já disse não tenho mais.
Sou apenas um cabra da peste.
Alexandre Brussolo (28/08/1995)