OS LAMENTOS DA ESCRAVIDÃO
Escute o lamento do negro que chora,
Escravo que ainda não se libertou,
Embora a Lei Áurea lhe desse o direito,
Mas o preconceito isso lhe negou.
Embora as correntes lhe fossem tiradas,
O elo partido em seu punho ficou,
Marcando sua vida, podando suas chances,
E o erro da história nem tudo apagou,
E a luta para abrir seu espaço,
Continua num mundo em que domina a força do aço,
Mas tua luta irmão, jamais será em vão,
Pois tens a coragem valente guerreiro,
E em tuas lutas sairás vencedor.
Escute o lamento da criança que chora,
Pois falta comida em teu pobre lar,
Barraco encharcado que a chuva assolou,
Tarecos quebrados foram o que restou,
E a lama encobrindo seu catre que era
A cama em que os pequenos dormiam,
Agora nem isso na casa restou.
Seu pai não se sabe por onde andará,
Talvez na sarjeta da grande cidade,
Caído em farrapos, vagando sem rumo.
Sua mãe sofredora sozinha enfrentou,
A carga pesada dos filhos criar
Enfrentando o trabalho em que ganha tão pouco,
Mas a honradez a seus filhos ensinou.
Escute o lamento do jovem que sofre,
Em meio à batalha em que foi obrigado,
Lutar por questões que ele não escolheu,
Sofrendo a maldade que a guerra criou.
Também o lamento do adolescente,
Criado na rua que foi o seu lar,
Cheirando cola e fumando crak
Para enganar a fome que consome o seu corpo,
Pois não tem emprego, escola e nem lar.
Escute o lamento e o grito abafado,
Daquela mulher que apanha calada,
Do homem que era pra ser seu amparo,
Vivendo num mundo que não tem escolha,
Porque não tem chance de ganhar seu pão.
Em meio aos lamentos se escuta uma voz,
Que tenta gritar pra que haja justiça,
Não sabe se vão ouvir seu clamor,
Mas sua consciência o incentiva a lutar.
Lutar por um mundo que seja mais justo,
Quebrar as algemas da escravidão,
Que os poderosos puseram naqueles
Que lutam até hoje pela liberdade
De ter seu lugar onde é seu por direito,
Sem a exclusão que a sociedade dos homens
Persiste ao pobre a justiça negar.
Therezinha Aparecida Valio Corrêa
(There Valio)