Vida
É o contrário do retrato preso no muro
Escuto, no escuro
Um rouco sussurro
De louco, impuro
É pouco, é burro
Eu corro e trabuco
Mas morro ainda
É o retrato preso no muro ao contrário
Maldito, hilário
Sinistro, diário
Vivo, trabalho
E tomo o atalho
Eu corro e labuto
E morro acima
É preso no muro o contrário do retrato
Que eu corto, maltrato
E volto, de fato
Pintura, de mato
De vida que mato
Eu corro e ajo
Mais morto ainda
É o contrário do mundo
É o mundo ao contrário
É a ambição do vigário
É o jogo do otário
É o buraco profundo
É o cavalo no páreo
É o burro na terra
É o barulho do raio
É a criança que berra
É a infância perdida
É a morte que espera
É a vida, é a vida.