SAUDADE MATA MESMO .................
Ary Bueno [ O Príncipe dos poemas e do amor ]
Que saudade sinto do meu sertão
Onde escutava os pássaros a cantar
Onde tinha fartura de arroz e de feijão
Onde era mais linda a luz do meu luar
Que saudades da velha porteira,
Do seu gemido e sua forte batida
Eita saudade no peito tão dorida
Parece que na cidade não tem vida
Que saudade do leite puro no curral
Da carne de porco, na banha curtida
Da pamonha, bolo de fubá e do curau
Do frango caipira, feito a moda antiga
Do fogão de lenha, da antiga lamparina
Da minha velha mãe sempre contente
Da manteiga pura, não tinha margarina
Que delicia, linguiça, em forma de corrente
E o cavalo, velho de sela, nossa alegria
O velho carro de boi lento cortando areia
Saudade do sabia com seu canto de alegria
E do ribeirão, onde hoje o peixe já raleia
Que tristeza, hoje não temos palmito amargo
Não temos mais as grandes e nobres aroeiras
Até na moda caipira a viola perdeu o cargo
Pois hoje se canta, com instrumentos de primeira
A lua no céu, passeia de forma absorta, tristonha
O sol, nos queima forte devido ao desmatamento
Não temos mais nem cavalos, burros, ou jumento
Hoje é tudo maquinário, que torna a roça enfadonha
Um dia ao morrer quero ir para o céu de carro de boi
Escutar la ao chegar, da minha porteira a velha batida
Ver la tudo de bom, que daqui para la um dia se foi
Acender o palheiro, e agradecer a Deus, por ti roça querida.....