NAQUELA RUA

NAQUELA RUA

Naquela rua sem nome,

Que devia ter nome,

Podia ser “tristeza”, “rua tristeza”.

Sim, “Rua Tristeza”,

Naquela rua o menino aprendeu lições do mundo,

Ouviu cantares, loas, serenatas

E também palavrões, desacatos...

Nas calçadas iluminadas de prata

De luar da infância perdida

Na distância do tempo; viu flores

Murcharem cedo, transformando-se

Em espectros de gente, em mundanas

Que sussurravam em alcovas modestas

Em noites mágicas que flutuavam na zonzeira

De homens inconseqüentes, irreverentes,

Que uivavam como cães excitados pelo cio de cadelas vadias.

Rua simples, sombria, descalçada,

Povoada de viventes inconscientes, inocentes,

Como um menino daquela rua,

Que ficou na memória

De outro menino que fui eu...

Pablo Calvo
Enviado por Pablo Calvo em 24/11/2008
Código do texto: T1300238