sem volta
Não posso ter
Escapou-me o grão de areia ínfimo
Escapou a luva da mão
Escapou-me a dor recolhida no peito
Nessa lágrima agora há um poço
a sorver toda esperança
de amor e de desamor.
De encontros e infortúnios.
Há nessa lágrima a salinidade bastarda
E cruel dos mares revoltos e misteriosos
Há nessa lágrima um adoçar das emoções
eruptas e o cuspir para o mundo
as semânticas rasas e clarividentes
agora mesmo,
espero a última gota
a percorrer todo meu rosto,
a cobrir as curvas da expressão
e desaguar finalmente na boca
silenciada de dor e compaixão
não posso agora
ter o grão de mostarda,
o jatobá da infância,
e, nem
a família com que sonhei
não tenho agora
as senhas para desvendar segredos
ou os remédios para os males
reticentes
que encharcam o brejo sem almas...
não tenho agora
a amizade de um cão,
a porta entreaberta
ou
a passagem secreta para o paraíso.
Resta-me o chão,
resta-me a lama
fétida e tépida.
O grito silenciado na voz.
O aceno de adeus
num cenário de desconstrução.
A partida de uma viagem
sem volta.