Sentimento Indescritível

Se o azul frio deste mar,

pudesse simplesmente refletir

O tamanho do meu pesar,

Anjos viriam me acudir.

E este vento que sopra, incessante,

Já não me alegra o coração;

Se antes o tinha como suave calmante

Hoje causa-me raiva e abominação.

A lua, companheira de outr'ora,

Parece agora zombar de mim;

E seus raios que precedem à aurora

surgem como um presságio ruim.

O céu, antes tão límpido,

Agora turva-me o olhar.

E estrelas brincando em seu íntimo

Há muito deixaram de me fascinar.

O pontual negrume da noite,

Que bons sonhos inspirava-me a ter;

Me faz sentir dores de cruel açoite,

Pois logo virá outro amanhacer.

Meu coração não diz, nem minha razão;

Que atroz moléstia ataca-me a alma?

Será o que chamam de desilusão?

Anseio livrar-me desta dolorosa flama.